quinta-feira, 19 de abril de 2012

A minha garota - parte 1

Uma criança especial nasceu em um vilarejo pequeno, humilde, em uma família pobre, porém trabalhadora.

Aos cinco anos sentiu a dor da perda com a morte de sua mãe, devido à tuberculose, o que a fez se fechar para o mundo, afinal sua mãe era sua única amiga, pois não havia outras crianças no vilarejo.

Um ano e meio depois sentiu a perda de seu pai, ele trabalhava muito para cuidar de sua filha e descuidava dsua própria saúde, e por conseqüência ela ficou sozinha no mundo.
Ninguém no vilarejo se importou com ela, era como se tivesse morrido com seus pais. Passou fome quando não conseguia pescar nada, sentiu medo durante as noites frias e de tempestade, mas mesmo assim ela se esforçava, queria que seus pais tivessem orgulho dela.

Quando a encontrei pela primeira vez ela deveria estar com 10 anos, estava bem magra, o kimono estava sujo, mas dava para perceber que ela cuidava dele com carinho, provavelmente foi um presente de sua mãe e de seu pai.

Eu estava com 156 anos, mas para os humanos não deveria aparentar mais de 17, sim sou um youkai, fugi de casa anos atrás e nunca mais voltei, aprendi a me virar sozinho e me tornei cada vez mais forte, e atrevo dizer que criei uma frieza quando se trata de humanos. Matam aquilo que temem antes mesmo de conhecer, fazem guerras por motivos tolos e inúteis, são gananciosos, cruéis, vazios... No dia em que a conheci estava passando disfarçado pelo vilarejo dela, estava cansado, tinha dinheiro para pagar minha estadia lá, mas ninguém se propôs a me receber, não gostavam de estranhos.
Já havia desistido de ficar lá e foi quando ela segurou a manga do meu kimono e sorriu dizendo que poderia ficar em sua casa, que era simples, mas era melhor do que dormir na floresta. Seu sorriso era tão ingênuo e puro no meio da sujeira dos que a cercavam na vila, eu aceitei a proposta dela.

A casa dela era simples de um cômodo, fiquei observando-a da porta enquanto ela arrumava a cama, que tinha certeza de que era de seus pais, e assim que ela terminou voltou-se para mim dizendo que iria pescar algo para a janta. Ela estava mudando o meu pensamento com relação aos humanos, existiam exceções, embora fosse cedo para tirar conclusões, pois poderia tentar me matar ou roubar durante a noite.
O tempo foi passando e ela não retornara, já estava escurecendo então sai para ver o que tinha acontecido com ela, fui até o rio e a vi, três homens estavam segurando-a pelo pulso, gritando que estava roubando os peixes que eles iriam pescar. Ela retrucava dizendo que não estava roubando, só queria pescar para um homem que estava de hóspede na casa dela, foi o bastante para eles a jogarem no rio com violência e levarem os peixes que tinha pescado deixando apenas um pequeno.

Admito que fiquei com raiva ao ver a cena, tive vontade de estraçalhar os canalhas, mas isso só causaria mais problemas para a garota depois. Quando saiu do rio, notei que segurava o choro, embora fosse pequena, era forte... Ao menos aparentava ser...

Voltei para a cabana antes, e alguns minutos depois ela chegou um com sorriso no rosto dizendo que só conseguiu um peixe, apesar de estar toda molhada e tremendo. Perguntei o por quê do seu estado e sem graça ela disse que tinha caído no rio, não me olhou nos olhos, não sabia mentir. Tirei a manta que usava sobre o kimono e usei para enxugá-la, embora tenha relutado um pouco dizendo que iria estragar e que não precisava, mas era mais forte do que ela. A menina foi gentil comigo, não poderia simplesmente deixá-la molhada.

Também fiz questão de dividir o peixe com ela, percebi que ficava sem graça e sem saber o que dizer, há anos não a tratavam com gentilezas, ela não merecia viver em um vilarejo tão sujo como aquele. Na hora de dormir ela arrumou sua cama bem no canto da cabana, a coberta que usava já estava bem desgastada com o uso, enquanto a de seus pais estava em perfeito estado. No meio da noite um temporal forte começou a cair, e no meio do barulho da chuva, pude ouvir o choro dela.
Encolhida embaixo da coberta, seus olhos avermelhados e surpresos ao me ver, como alguém pego ao tentar esconder algo, logo pediu desculpas passando as mãos pelos olhos, naquele exato momento não sei ao certo o me aconteceu, mas peguei sua mão pequena e fiquei com ela no colo, esperei até que se acalmasse e voltasse a dormir novamente. Senti a vontade de protegê-la, o que era estranho para um youkai... Pegar afeto por um humano...

Mas não podia ficar com ela, e não poderia levá-la comigo, apenas poderia ajudá-la um pouco e torcer para que a vida seja mais gentil com a criança.

Na manhã seguinte ela se desculpou novamente pelo ocorrido e que não gostava de temporais, não era nada demais, todos temem algo... Quando comentei que teria de ir, aquele olhar alegre dela se tornou um olhar triste e aquele olhar... me apertou o peito, mas não tinha jeito. Deixei uma boa quantia com ela como agradecimento, não queria aceitar tanto, mas eu insisti, e deixei um cordão feito com meu pêlo de minha forma original, serviria como uma espécie de amuleto. Ela sorriu quando o recebeu e disse que iria cuidar com carinho, e eu soube que o que dizia era verdade.

Antes do adeus me perguntou o nome, pensei em mentir, mas não havia necessidade e contei, perguntei o dela, um nome lindo que não esqueceria facilmente... Hikari

Continua...
Já tem um tempo que escrevi essa história e realmente gostei dela, deixem seu comentário ele é muito importante =D
Ah.. se encontrarem algum erro, peço desculpas, mas sempre acabo comendo letras quando escrevo e mesmo relendo um monte de vezes acaba escapando algo...

Beijos

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