quinta-feira, 26 de abril de 2012

Aqui estou...

Aqui estou...em um canto qualquer, em uma rua qualquer... sozinha......

Meus pais foram os melhores, sempre me deram carinho, amor... mas em algum momento, o dinheiro e a aparência passaram a ser mais importantes e fui jogada para segundo plano. Nem segundo, diria que era o último, se não fosse o fato de sempre estarem de olho no que fazia, não por preocupação comigo, mas sim para não sujar o nome da família.

Escolheram onde estudaria durante o ginásio, era pequena e aceitei embora não gostasse do lugar.

Quando fui para o colegial também escolheram, porém dessa vez não aceitei calada. Pela primeira vez gritei com meu pai e respondi para minha mãe, também foi a primeira vez que meu pai me bateu... Acredito até que tenha gostado só pelo brilho que tinha em seus olhos ao me dar o tapa. E graças a isso fui o centro das atenções na cerimônia de abertura, estava com um curativo no rosto, tentei esconder com o cabelo, porém não adiantou muito. O ano mal tinha começado e já havia fofocas a meu respeito...

Embora tenha tentado fazer amizades, não tive sucesso, as pessoas da minha sala mantinham distancia, me sentia uma total estranha. Meu único refugiu era o telhado do colégio, as grades eram baixas e sempre batia uma brisa refrescante, passei a ir lá todos os dias no intervalo e após as aulas, pensava, dormia até cheguei a cantar...

Certo dia o professor me escolheu para fazer um trabalho em sala com o namorado de uma das garotas, ela não gostou nem um pouco, mesmo sem ter trocado um palavra com ele e nem com ela fui alvo de palavras repletas de veneno e hostilidade. Expliquei que apenas queria fazer o trabalho e nada mais, mas isso só deixou a garota com mais raiva, raiva que foi descontada na aula de educação física, me derrubaram, esbarravam com força... Agora não bastasse meus pais em casa teria que aguenta-las... No vestuário encontrei meu uniforme todo sujo e apenas ouvi os risos das outras, não iria aguentar... Vesti o uniforme como se não estivesse imundo e sai correndo para o único lugar onde poderia ficar em paz.

Passei o resto do dia lá, sentada encostada na parede olhando o céu... Mesmo quando começou a chover continuei ali, sentindo a água escorrendo pelo meu rosto. Foi quando ele abriu a porta, aquele que viria a ser o meu melhor amigo... Ele fazia parte do conselho estudantil, era o responsável em corrigir os problemas criados pelos alunos e punir os mesmos. Disse que precisava sair, pois era proibido para os alunos permanecerem no telhado e caso contrário teria de me levar até a diretoria. Naquele momento sorri pensando no escândalo que meu pai faria por ser chamado ao colégio por má conduta de sua filha.

Devo ter assustado ele, pois logo em seguida desabei... comecei a chorar... e chorar muito...

Depois daquele dia ele ia me ver quase sempre na sala, íamos até o telhado e ficávamos conversando por horas após a aula, ria e divertia muito ao lado dele. Sempre me escutava quando queria desabafar, e sempre ficava do meu lado quando não aguentava mais a situação em casa... Teve uma ocasião em que por causa da limpeza das salas e por ter ficado conversando com ele cheguei mais tarde do que o costume em casa e fui recebida a gritos, perguntaram onde estava, o que estava fazendo, com quem estava. Expliquei que estava no grupo de limpeza e depois fiquei conversando com um amigo, meu pai ficou furioso. Gritou que não me mandou para o melhor colégio para ficar namorando, até me acusou de ter feito algo mais e que não poderia mais ver esse tal garoto. Ele estava tirando o meu único amigo, e não iria aceitar, gritei mais alto que ele. O resultado foi um pequeno trauma na cabeça e um braço quebrado, quando os médicos perguntaram minha mãe falou que tinha caído no caminho de volta e que bati a cabeça na guia da rua...

O médico acreditou na história, afinal éramos uma família com um nome importante, quando voltei para casa não sai de meu quarto, fiquei lá trancada por um bom tempo... até que tive a grande ideia de fugir, iria até a casa de meu amigo, sabia que ele iria me ajudar.

Sai no meio da noite quando meus pais já estavam dormindo, apenas coloquei umas roupas em uma mochila e um pouco de dinheiro que havia juntado. E agora estou aqui com uma ferida aberta por onde flui o calor deixando meu corpo cada vez mais frio, já não sei quanto sangue havia perdido, mas finalmente estaria livre daquele pesadelo... Estava com a vista turva, o frio tomava o lugar da dor, logo chegaria a minha hora. Só havia uma coisa naquele momento que queria fazer... Liguei para ele, torci para meu corpo aguentar só mais um pouco, o suficiente para dizer uma palavra, quando ele atendeu um sorriso leve se formou em meu rosto e apenas uma palavra saiu... com a voz baixa e fraca apenas disse...


"Obrigada..."